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Archive for août 2015

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« Chacun d’entre nous a déjà rencontré ces créatures que Benjamin définit comme « crépusculaires » et inachevées, semblables aux gandharva des sagas indiennes, mi-génies célestes, mi-démons: « Nulle n’est assignée à un endroit précis, nulle n’a besoin de contours nets et inimitables; nulle qui ne soit en train de descendre ou de monter; nulle qu’on ne puisse prendre pour son ennemi ou pour son voisin; nulle qui n’ait atteint son âge et qui soit pourtant arrivée à maturité; nulle qui ne soit complètement épuisée et qui pourtant ne se trouve qu’au début d’un long voyage. » Plus intelligents et plus doués aussi que nos autres amis, toujours tendus vers des idées et des projets pour lesquels ils ont toutes les qualités, ils ne parviennent cependant à rien finir et restent généralement sans oeuvre. Ils incarnent le type de l’éternel étudiant et de l’aigrefin qui vieillit mal et qu’il faut bien finir, fût-ce à contrecoeur, par laisser derrière nous. Et pourtant, il y a quelque chose en eux, un geste inachevé, une grâce inattendue, un certain aplomb mathématique dans les jugements et dans le goût, une souplesse comme aérienne des paroles et des gestes qui atteste qu’ils appartiennent à un monde complémentaire, qui indique une citoyenneté perdue ou un ailleurs inviolable. On peut dire alors qu’ils nous ont porté assistance, même si nous ne savons pas comment. Peut-être cette assistance consistait-elle précisément en ce qu’ils n’offraient pas le moindre secours, en ce qu’ils nous opposaient avec obstination leur « pour nous, il n’y a rien à faire ». Mais c’est précisément pour cette raison que nous savons que nous les avons trahis. »
(Giorgio Agamben: Assistants, dans « Profanations »)

Peut-être est-ce ainsi que tu es vu, perçu, appréhendé par les autres (par beaucoup d’autres, en tout cas…)

« Ceux qu’il voit, ce sont les écrivains de Paris. Pas aussi souvent qu’il l’aurait dans le fond désiré, mais il les voit, et de temps en temps parle avec eux, et eux savent (généralement de manière vague) qui il est, il y en a même qui ont lu deux ou trois de ses poèmes en prose. Sa présence, sa fragilité, son épouvantable souveraineté servent à certains d’entre eux de stimulant et de rappel. »
(Roberto Bolaño: Henri Simon Leprince, dans « Appels téléphoniques »)

Que tu te l’avoues ou non (le plus souvent c’est « oui », sans honte ni emphase), c’est ainsi que tu te vois toi-même, ainsi que tu vois également le frêle secours que secrètement tu leur portes…

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Cap sur le scalpel, les barbelés érigés pour rendre l’effraction inévitable, cap sur l’heure entrebâillée, la fatigue du déchiffrement, les survies aux aguets, leurs forges idolâtres t’ajustant en surplomb de la débâcle advenue…
Car nommer, c’est donner congé (en toi, mais contre toi) à ce deuil ni attendu ni craint, qui se fait difforme, filiation qui ne redoute ni ne délivre qui en joue, griffes et empreintes se frôlant sans jamais s’atteindre, qui font halte au jardin des effrois, réinventent ce pluriel dès longtemps hors de portée, qui tant voulait en finir, assombrir lames et apanages, le pacte que le sang dénoue, le filet qui égare…
Car nommer, c’est surprendre le bond et la voie, le repentir calciné, l’œil en maraude rouvert, comme à rebours, qui scelle et recèle ce poids mort qui d’un coup te manie, te tord, te dérobe aux pousses d’impure patience, à l’amniotique primauté des départs, à la parole blanchie, exhibée, que froissent et fracassent les désordres du monde…

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« Em toda ação, em toda escolha, é a felicidade o termo que temos como objetivo e é para atingi-la que todo resto está sendo cumprido. Termo em si mesmo cravado, margem perfeita, pois a felicidade não é nem instrumento nem meio, mas fim apenas, e, por isso mesmo, fim absoluto, entre todos o mais desejável, o único capaz de apaziguar, de aquietar o desejo. Sem a felicidade, não pararíamos, na verdade, de desejar, indefinidamente escolhendo tais metas, mas já tendo em vista outras através delas, sem satisfação, nem trégua, nem descanso, incessante busca do prazer nos afastando a cada passo do termo que é a felicidade mesmo.
A felicidade é desejável, altamente desejável, é mesmo o que a define. Mas o que é o desejo? O desejo é FALTA, todo desejo é de carência : “O que não temos, o que não somos, o que nos faz falta, tais são os objetos do desejo e do amor” (Platão).
Se o desejo é falta, sempre careço do que desejo (mas a falta É um sofrimento) e nunca desejo o que já tenho (pois o desejo É carência). Ora desejo o que não possuo, e estou sofrendo; ora tenho o que desde então não desejo mais…
Albertine presente, Albertine desaparecida ; como Proust entendia bem disso! Trata-se contudo da mesma mulher, mas uma não se pode amar, a outra não se pode esquecer. Desejamos o que não temos, deixamos então de desejar o que possuímos- e que voltaríamos a querer se for perdido um dia. Sofrimento da carência, indiferença da posse, abominação do luto…”Imagina madame Tristão”, sugeria Denis de Rougemont, e podemos muito bem adivinhar o que teria acontecido: a paixão de Isolda só alimenta-se da falta de Tristão e a felicidade por ela desejada, preenchendo essa carência, teria-se anulada, abolida enquanto tal nessa exata medida…
Será que têm outro caminho? Talvez, e é o que os filósofos chamam de “sabedoria”. Como concebe-la? Antes de mais nada, como oposta ao que antecede, ligada á existência de algo real, positivo, que nos incentiva a viver (na alegria ainda por cima…)
E o que todos nós já experimentamos e cujo nome é “prazer”, o qual é bem outra coisa do que a ausência de sofrimento. Comer quando estamos com fome (e mesmo, se a comida for deslumbrante, sem grande apetite…), beber quando estamos com sede (e mesmo – se a bebida for aquela água de coco ou uma garrafa de vinho daquela safra maravilhosa ou aquele whisky escocês envelhecido com carinho –sem grande e veemente impaciência…), fazer amor (mesmo sem amar com A maiúsculo…), rir, passear, ouvir música – todos estes prazeres, da plena, soberana PRESENÇA dos quais cada um pode desfrutar. Falta? Mas de que, pelos deuses, pois o prazer está aí? Sem dúvida nenhuma, não há também prazer sem desejo; no entanto, sem carência previa, o que é radicalmente diferente – e fundamental!
A música que me preenche não me fazia falta antes de ressoar(e muito menos enquanto a estou ouvindo), nem essa paisagem no outono, nem essa risada explodindo, nem essa mulher que me completa…É então preciso que o desejo não seja sempre e apenas uma carência. O que, então? Uma potência , e é o prazer justamente o ato dela. Não é a felicidade o ponto de partida, mas sim o prazer, prazer do corpo (o gozo), prazer da alma (a alegria) – tal é o pensamento de Spinoza, de Epicuro. Tudo gira entorno da relação dos dois com a carência. Trata-se, segundo esse último, de uma relação de EXCLUSÃO nos dois casos. Não na medida em que prazer e carência não poderiam coabitar: posso beber e ainda ter sede, comer e ainda ter fome, sentir ainda (oh loucura dos amantes!) a falta do ser amado no momento mesmo em que estou o possuindo…É o que Epicuro chamava de “prazer em movimento” que, como todo prazer, permanece com certeza um bem, mas que, porém, fica ainda habitado pela falta que o movimenta e, de uma certa forma, o corrompe ou o escurece. O faminto nunca é um bom “gourmet”, nem o amante ávido demais o melhor dos amantes…Mas mesmo nesse caso, porém, o encontro do prazer e da carência permanece uma conjunção dos contrários: a fome (enquanto sofrimento) e a alimentação(enquanto prazer) podem evidentemente existir simultaneamente, no entanto radicalmente antagônicas, pois uma abolirá a outra: o prazer, além de nem sempre precisar da carência, só floresce apagando-a.
Todo prazer sendo um bem, todo sofrimento um mal, eles só convivem se opondo. Mas será que este prazer não pré-supõe aquilo mesmo que está suprimindo, será que a abolição da carência não estaria abolindo, nessa exata medida, o prazer mesmo? Admitir isso seria esquecer-se da existência, além do “prazer em movimento”, de um “prazer em repouso”, constitutivo este do bem viver e do bem estar e que, longe de preencher uma carência, surge mesmo quando nada nos faz falta. É o que chamamos de “plenitude”: não ter fome, não ter sede, não sofrer, não ter medo, não lamentar…As formulações são negativas(a linguagem reflete a absoluta primazia existencial do sofrimento…), no entanto a realidade é totalmente positiva, seria até a única positividade…O “prazer em repouso” é o prazer constitutivo de viver, é a vida mesmo como prazer…
O exclusivo culto do “prazer em movimento” (aquele desejo, segundo Aristóteles) predomina no ser humano, hoje em dia talvez mais do que nunca. Mas é ele, como já acrescentamos, o que mais nos separa da felicidade no ímpeto mesmo visando busca-la. Se a felicidade for possível (e Epicuro nos diz mais: que ela existe, que ele mesmo a viveu, no que todos os sábios concordam), ela pré-supõe uma conversão do desejo que chama-se “sabedoria”: desejar não o que nos faz falta(caminho das religiões e da infelicidade…), nem mesmo o que já temos (na medida em podemos perde-lo), nem mesmo o que somos (pois nada somos …), mas o que vivemos, conhecemos e fazemos. Eis o ponto essencial, confluência das duas grandes sabedorias do Ocidente, a epicurista e a estóica, que o Oriente, da maneira dele, confirma também. Trata-se de desejar o real – de ama-lo, se possível for, de aceita-lo senão – tal como ele é, em vez de sempre recusa-lo para querer o irreal. A felicidade é simples como o pão de cada dia, eis porque é tão difícil : é apenas um grande “SIM” ao mundo e á vida, enquanto nosso primeiro movimento, devido ao medo, é de dizer ou de colocar limitações…
Loucura e tristeza…A sabedoria, em todas as línguas, prega exatamente o contrário, o que parece bem pouco para fazer a felicidade desabrochar…Seria esquecer a AÇÃO, sem a qual na verdade a felicidade nada seria. Pois a felicidade não é um estado ou uma disposição da existência; não é tampouco algo que poderíamos possuir, achar, alcançar, e é exatamente porque, num certo sentido, não há felicidade. Ela não pertence à ordem do “ter”; não é uma coisa, nem uma ontologia, nem um estado: é um ATO.
Ser feliz não é nem ter nem ser: é FAZER. O “prazer em repouso” nada têm do prazer passivo (da mesma forma que o ato sem movimento de Aristóteles ou o não-agir dos Orientais não significam a inação), ele é o ato mesmo de gozar e de existir (o prazer de agir e de ser), enfim liberado da carência e da recusa que o perseguem em quase todos nós e que, ao adia-lo sempre, o proíbem de fato. Trata-se, claro, de um fato que só vale por si mesmo, e não pelos frutos que traria. Aja, então, não para colher, mas pelo prazer da ação; viva, não pela felicidade, mas para viver. Eis na verdade a única felicidade: a no ato, ou seja, o ato mesmo como felicidade.
Somente então o prazer é PURO, como dizem os epicuristas, ou pleno, ou simples, antes de mais nada na medida em que purificado da angústia e da carência que o afastam dele mesmo.Grande estava no entanto nossa raiva ao pressentir que o “NADA” não deixa de nos anteceder…É o que chamam de, mortal veneno, pois através dele a alegria encontra-se adiada e a vida perdida a esperar. A felicidade começa no exato momento em que nada mais esperamos… »

« Séculos atrás, numa pequena cidade do norte da Itália, uma menina de treze anos avistou do balcão um garoto apenas um ano mais velho e proferiu essa frase ao mesmo tempo maravilhosa e imbecil: “Se casado tiver, uma mortalha será meu véu de noiva…”. Eis o mérito da questão, pois desde que me entendo no mundo, tive com a paixão uma relação das mais complicadas, um lado meu atraído (o que é dizer pouco…) por essa vertente “germânica” dela, total, irredutível, irracional, absoluta, mística na verdade (perder-se, dissipar-se, abolir-se no outro até que o mundo mesmo desabe e se perca), o outro lado, ninado pelos estóicos como pelos epicuristas e pelo Oriente, vislumbrando-na como perigo, mortal veneno, pois só ela consegue, se não contida, nos afastar da sabedoria, da felicidade e dessa paz de dentro que tanto prezo…
Se o desejo quase sempre é carência, isto ocorre pela temporalidade dele; o desejo só é carência quando torna-se esperança. AGIR, é satisfazer as exigências de um desejo que não é falta, mas, no ato mesmo, uma potência – o que não proíbe de maneira alguma que o prazer acabe sendo encontrado…O que Platão diz do desejo (desejamos o que nos falta), seria verdade, não do desejo (como potência de gozar), mas do desejo (como gozo potencial) – não do desejo, mas sim da esperança!
Eis porque a felicidade está falhada; não por causa do desejo (que ela, de fato, está pré-supondo), mas POR CAUSA DA ESPERANÇA. No Ocidente, ninguém percebeu isso melhor do que os estóicos. A esperança é uma PAIXÃO ou seja, na sua linguagem, um movimento despropositado da alma que afasta-se da natureza. O sábio não pode ressenti-la: ele vive no presente e nada lhe faz falta. Desprovido de desejo? De modo algum: mas o desejo dele só diz respeito ao real e ao presente (que não é um instante, mas uma duração), seja para alegrar-se mesmo assim, quando não está em seu poder satisfazê-lo, seja para cumpri-lo, quando está. Este último desejo (de um bem presente que depende de mim) foi chamado pelos estóicos de VONTADE ou seja, a potência de agir. Na medida em que o sábio quer tudo que está acontecendo, tudo só acontece do jeito que quer; está feliz, sem jamais espera-lo (esperar o que, aliás, pois já afortunado?) Nada mais vão do que esperar a virtude (pois ela depende apenas de nos), nada mais triste do que esperar a felicidade (pois isso quer dizer que não a temos…); felicidade e virtude, em vez de contraporem-se, convergem, confluem; são elas as marcas da vitória da vontade sobre a esperança, e é nessa exata medida também que elas são liberdade. O sábio faz tudo que quiser pois ele quer (e quer apenas) tudo o que faz: “Não esperar, nada fugir, mas contentar-se da ação presente…”( Marco Aurélio)
Em poucas palavras, a felicidade absoluta, ilusória e impossível, é talvez o principal obstáculo que nos separa da felicidade real, sempre relativa, e que sempre carrega uma parte de luto e renúncia.
Porém, o que de costume nos alegra – para dizer a verdade, apenas no imaginário e no devaneio na maior parte dos casos – é a idéia de possuir o outro (nesse caso não é ele que amamos, mas sua posse) ou de ser amado por ele (nesse outro, também não é ele que amamos, mas seu amor); é o que chama-se de paixão, sempre egoísta, sempre narcisista, sempre prometida ao fracasso…Não podemos possuir ninguém, nem jamais sermos amados como desejaríamos, é talvez a única decepção a qual ninguém chega a habituar-se ou conformar-se…
O amor, o verdadeiro amor (que é amor não de si, mas sim do outro) é sempre generoso; nada lhe faz falta (pois é ele desejo não do que não é, mas do que é), nada pede (pois nada lhe faz falta), nada espera também .
“Estar apaixonado é um estado » – dizia Denis de Rougemont – ”amar, um ato », e apenas os atos dependem de nos…Sem a todo custo recusar a paixão, é então nesse ato de amor (não o amor-paixão, mas o amor-ação) que devemos nos concentrar. Não há “EROS/amor de si” totalmente feliz, é a nossa parte de loucura, não há “PHILIA, AGAPÈ/amor do outro” infeliz, é a nossa parte de sabedoria “

 

« Por mais longe que consiga mergulhar na memória, fui feliz: na incomensurável infância, no encarnado de uma salubre revolta, na poesia dos números, no verde da Irlanda e no ocre da Toscana, nas iluminações e nas ginopédias, na obra que deixa o tempo passar e olvidar-se, nos subtraindo da realidade só para entregar-nos sua mais plena existência, nos reflexos da sombra numa pele acobreada, na desordem frenética e exata dos corpos, no sussurro das línguas
da minha Babel de dentro, nas fugas e nos langores, no comprimento das regras que para mim mesmo tracei, nos êxtases a que nunca me recusei, na minha inesgotável liberdade de intruso, na multiplicidade das trilhas e na mansidão dos refúgios…
Aconteceu-me estar triste, desesperado: jamais infeliz.
Pois a tristeza é muda, respiração sutil, comprimento e música, enquanto o desespero, compacto e transitório, nada mais significa do que, estrita e etimologicamente, « ausência de esperança ». Ora a felicidade não é para mim nem esperança nem epifania, ela não é revelação, nem revolução, nem redenção.
Lá de onde surge, livre, desprendida de todo vínculo, ela zomba da lei, dos logros da troca, do peso da produção. A sedução a funda, a derivação nos mares do jogo e da memória a amplifica, o campo da dispersão é seu alcance e sua vitória.
Como a sedução, a felicidade nos deixa pegar pelo avesso, de soslaio, de uma bem mais sutil e irônica maneira que a estratégia frontal da critica e da análise, o problema dos poderes e das leis do intercâmbio, acolhendo os signos na sua atração sedutora e não no seu contraste e oposição.
Assim do Bem e do Mal, do Verdadeiro e do Falso, de todas as « grandes » distinções que servem para decifrar o mundo, de todos os termos cuidadosamente esquartejados, desatados ao custo de uma louca energia e que a sedução felizmente reúne no auge da sua intensidade e plenitude.
Pelo próprio jogo da sedução, a felicidade resta insolúvel e indecifrável, desafio à ordem do senso unívoco e à clausura do real, desafio à ordem da verdaderevelada e do conhecimento endeusado.
Lugar de vertigem: não de desejo, de vertigem, não de aniquilamento nem de alienação, mas de eclipse e de cintilação do ser.
Vertigem repentinamente contagiosa, que tramita pelo esperto gozo dos seres e das coisas de manterem-se secretas – enquanto as verdades unívocas passam pela obscena pulsão de sempre e em todo lugar serem reveladas…
Na felicidade, tudo é entrada, parada, o que nos deixa jogar. TUDO, ou seja, o que há de ser seduzido, como Deus, como a lei, como a verdade. Os seres e as coisas vislumbram-se erguidos, retos como a luz num espaço ortogonal; mas todos tem uma íntima curvatura, que a felicidade ajuda seguir, acentuando-a sutilmente até que o peso do senso desabe na sua móvel transparência…
É dela a hora de tudo reconstruirmos, seja apagando, seja decifrando, transformando os estigmas em pontos de partida, como numa nova primeira manhã do mundo.
A felicidade não vai ao campo, ao trabalho, à igreja, ela vai andando. Tem com a sedução o parentesco de saber escolher o que ao longo do caminho vem surgindo e é o molde das trilhas que a modela tal como é…
Tudo se move sem fugir nem confluir, tal o navio que, não afastando-me de pátria nenhuma, não me aproxima de nenhum naufrágio.
Não há assinação: nem agora nem mais tarde, nem aqui nem lá, mas onde e inexplicavelmente ela surge.
Só se fala nela no presente: a duração é a sua substância, nunca letra morta ou previsão.
É intacta: falar dela é ao mesmo tempo convocar e desistir da memória e da esperança, da colheita das lembranças e do traçado das plantas, perspectiva cavaleira deixando vocábulos e musicas para trás e reencontrando-os no frêmito dos plátanos dourados do outono…
O espaço da felicidade não se divide, não se baliza, não se cadastra. Não há sinais, nem faixas sagradas, nem ponto fixo, nem periferia, nem diferenças de profundeza ou intensidade. Não é um território, está lá, no fundo, porém não como se fosse o ponto final; não chega-se a ela como ao termo da viagem, não é tampouco o pais do além, a terra em frente, que só precisaria da travessia…
Espaço paralelo, escondido: quando o mais longo dos périplos, por quase nunca acabar, faz o viajante esquecer-se dele e até de quem ele é, o faz desembocar na trilha da felicidade.
Está ela nas encruzilhadas, nas portas das casas, sombra erguida nos pés das paredes…Está nas margens e nas falhas, no sim e no não, no comprimento como no desapego, na fraqueza de recolher, no que circunda e rompe, nas paradas e nos âmbitos, na presença e no recuo, no dizer e na receptação, na memória das fontes, no fio retido, no pilar cortado, nas queimaduras e nas cortiças, nessa paz sem contornos onde ninguém caminha como numa terra estranha…
Silêncio do meu consangüíneo, palavras sem logro nem limites, tentando arrancar dela, disseminado no flanco da corrida, o soberano instante que nos ratifica:
« Rosa…o pura contradição, alegria de não ser de ninguém o
sono debaixo de tantas pálpebras… » (Rilke) »
(São Luis, 1999)

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La plus brève, juste et vraie définition de la fiction que je connaisse!

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« Cela nous submerge. Nous l’organisons. Cela tombe en morceaux. / Nous l’organisons de nouveau et tombons nous-mêmes en morceaux. »
(Rilke) – citation placée par Claude Simon en épigraphe d' »Histoire »

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« Ici et nulle part, les paroles sont des actes dont la réalisation est immédiate »
(Heinrich Zimmer)

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Écrire le temps, c’est se faire apprenti sablonneur vouant ses démentis à l’horizon et la demeure, sentinelle escamotant le devenir, coagulant l’écart, s’appuyant sur la durée comme épreuve, se jouant de l’instant suspendu dont elle joint les subterfuges, les embrasements, les ratages, les traverses, pesées hors gonds, masques aux yeux vides, revers vus de face, appels de loin venus, viatiques, tout ce qui, prenant appui sur ce qui bouge, ne peut les enfreindre qu’en les annihilant.
Écrire le temps, c’est le condenser, le ralentir, l’interrompre, en défaire les clôtures, en broyer les formes, faire place vide pour y loger l’insoumission surgie de l’arrière-plan, l’Ouvert impartageable, le passé tant brouillé et feuilleté qu’il est désormais difficile (impossible?), pour nous comme pour d’autres, de « rentrer chez soi » (car si le temps « passait », ce serait comme dire que le sentier chemine ou que le clavier écrit, confondant l’attente et son étendue, la chose et son office…)
Écrire le temps, c’est écrire dans le temps et hors de lui, libérer la parole de toute assignation, la rendre à cette présence qui cache l’accident irréversible, l’avenir écroulé face à la mort qui vient, contagion qui s’écaille, s’éparpille, effaçant ce que la réalité a de plus précaire, ses demandes aveugles, ses brèches, ses brouillages..
Écrire le temps, c’est jouer avec la pensée et la langue, jeu solitaire, tronqué, mutilé, déchiré, décentré, violent sans retenue (car penser, c’est « être en lutte avec la langue », selon la tranchante formule de Wittgenstein), jeu redouté, mais nourri par nos choix, ni source ni anticipation, ni échange ni alliance, mais « cette forme que prend le beau quand il est sans espérance » (Volodine), opération fictive et sans témoins, unique au milieu des autres (métaphore du coït interrompu aussi, car à quoi jouer, si parfois l’on ne sait pas qu’on joue, ni même ce qu’est un jeu?), éclairant et remodelant autrement ses points d’ancrage, cela même qui assure et rassure « le mouvement qui déplace les lignes » et, ce faisant, nous tue…
Écrire le temps, c’est en investir les frayages, les glissades, les lacérations emboîtées, le désarroi qui se donne dans ses saillies, jamais dans ses sciures, car l’écrit qui en désobstrue l’accès n’est ni copie ni double, ne s’avoue qu’au futur, dans le tissu déchiré de l’advenue, dans sa respiration secrète, ses métastases éparpillées, son inachèvement que creusent le jeu de ses renvois, les ruses de ses décombres…

« Dans le bouddhisme zen, on dit: si quelque chose ennuie au bout de deux minutes, essayer quatre. Si l’ennui persiste, essayer huit, seize, trente-deux et ainsi de suite. On finit par découvrir qu’il n’y avait pas ennui du tout, mais vif intérêt. »
(John Cage)

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« Le maître dont l’oracle est à Delphes ne dit rien, ne cache rien, mais signifie. » (Héraclite)

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